Com o espaço comercial de um jornal diário definido pela manhã ou no início da tarde, a redação pode começar a desenhar a página. Alguns autores chamam isto de “arranjo macro”, porque é o arranjo de grande blocos de anúncios e matérias. O editor trabalha junto com o diagramador e, juntos, riscam os espaços para as matérias, conforme a altura dos anúncios.
A experiência de décadas de trabalho em oficinas de jornais deu origem a uma série de regras que geralmente funcionam, na colocação de publicidade e conteúdo editorial em jornais:
Anúncios grandes ficam para o lado de fora das páginas, em baixo
Anúncios médios ficam acima e dos lados dos grandes
Anúncios pequenos formam uma “escadinha”, entre os grandes e médios.
A pirâmide deve descer para o centro da página, não para fora da página.
'Deve-se evitar pilhas porque isto tende a “sufocar” os pequenos anúncios. E afinal, você tem que valorizar o pequeno anunciante, para que ele se torne um grande anunciante!
Só pode haver pilha de anúncios de indicadores profissionais, por exemplo, ou outro tipo de anúncio relacionado a segmentos comerciais.
Na ilustração ao lado, que representa uma página de jornal tablóide com modulação comercial, os anúncios (retângulos grisê) foram colocados em pirâmide. Os números representam a ordem de colocação, que é feita pelo departamento comercial.
Colocação de matérias
Essa diagramação em pirâmide é ótima para os anunciantes, mas ruim para o diagramador, que tem o desafio de tornar interessante um espaço em escadinha aparentemente impróprio para diagramação. No entanto, o artista gráfico deve tirar partido deste layout, em vez de fazer com que matérias editoriais e anúncios briguem dentro da página.
Atualmente, não se admite o chamado “joelho” na diagramação (dog leg, pata de cachorro, em inglês). O joelho é formado por colunas de matérias que terminam em alturas diferentes. Para se evitar joelhos, as matérias têm que caber em um retângulo, não em um polígono. Entretanto, até grandes jornais como New York Times ou Folha de São Paulo cometem joelhos.
Para se eliminar joelhos, a primeira providência é transformar a escadinha formada pelos anúncios numa escadona, fechando alguns degraus com pequenas materinhas, notinhas e, eventualmente, calhaus (anúncios do próprio jornal, pré-desenhados e prontos para qualquer eventualidade). Assim, o diagramador terá espaços retangulares maiores para colocar matérias maiores. Procure deixar espaços maiores na parte de cima da página para as matérias principais.
Na ilustração ao lado, as matérias (retângulos azuis) foram dispostas de maneira a fechar os degraus da escada, sempre em bloco retangulares e sem deixar “joelhos” na diagramação. Cada quadro azul corresponde a uma matéria diferente. Os números representam a ordem de colocação:
A altura dos anúncios determina a altura das matérias. Assim, ao leitor parecerá que toda a página foi cuidadosamente desenhada (o que é verdade).
Observe que as páginas destes exemplos são diagramadas conforme uma modulação comercial e editorial de jornal, comentado no artigo sobre disposição de anúncios e matérias.
Também em outro artigo, discuto um método fácil e preciso de fazer o cálculo de texto que cabe em um espaço de matéria jornalística.
No exemplo acima, os quadros de matérias representam o lugar das matérias. Mas, no PageMaker, estes espaço precisam ser mais divididos: um quadro para os títulos e um quadro para cada coluna de matéria.
Em programas mais evoluídos, como QuarkXPress, Ventura, InDesign ou Scribus, não é necessário abrir um quadro para cada coluna. Você abre um quadro para o título e um quadro para o texto. Depois, você determina que o quadro tenha mais de uma coluna e o texto entrará em colunas automaticamente.
Com o Corel Ventura, que é o melhor programa de editoração atual, você abre apenas um quadro, como no exemplo acima. Ao colocar o texto dentro do quadro, a matéria já fica automaticamente formatada. O título já foi definido para não obedecer à divisão de colunas e fica com a largura total do quadro. O texto deve obedecer às colunas e fluir automaticamente. Além disso, o Ventura distribui as linhas de texto igualmente pelas colunas (balanceamento) de maneira que a última colunas não fique com menos texto. Também faz a justificação vertical. Ou seja: o texto fica alinhado em cima e em baixo. Isto é complicado de se fazer com o PageMaker. Quase impossível, num jornal diário que tem pressa de ser finalizado.
A técnica de impressão offset, mais usada em jornais, só imprime em “áreas chapadas”, ou seja, determinada área do papel recebe tinta ou não. Não existe meio termo. Com o método tipográfico, usado anteriormente, também era assim. Dessa maneira, não poderíamos imprimir fotos e ilustrações com diversos tons de cinza se não fosse pela técnica de retícula (Screening ou halftone, em inglês).
Por esta técnica, inventada no século 19, imagens em tons de cinza são decompostas em pequenos pontos. Através de uma lupa apropriada (que os gráficos chamam de “conta-fio”), podemos ver de perto estes pequenos pontos. Ao lado vemos um conta-fio posicionado sobre a foto.
O diâmetro destes pontos varia conforme a área da fotografia seja mais escura ou mais clara. O efeito pode ser visto na imagem ao lado (Clique na foto para ver a imagem grande). Assim, vista de longe, a fotografia impressa parece ser constituída de tons de cinza, não de preto-e-branco. A reticulagem é feita nas gráficas pelos equipamentos gráficos digitais, hoje em dia.
No entanto, temos que ter cuidado na preparação de fotos para impressão em jornal. Qualquer tipo de impressão vai modificar o diâmetro dos pontos porque o papel absorve um pouco da tinta (e o papel jornal tem de absorver bastante tinta porque ela não seca por evaporação, seca por absorção, devido à velocidade de impressão).
Os pontos grandes, em áreas escuras, vão ficar um pouco mais espalhados, escurecendo ainda mais a área. Por outro lado, os pontos pequenos podem ficar menores, na preparação da chapa de alumínio da impressora offset, ou a chapa pode gastar um pouco com o tempo de impressão. Assim, pontos pequenos em áreas claras podem ficar menores, clareando ainda mais a área. Isso se chama “ganho de ponto“, em artes gráficas.
As fotos impressas precisam ter um mínimo de pontos pretos em áreas claras (branco total) e um mínimo de pontos brancos em áreas totalmente pretas. Para conseguir este efeito, temos de corrigir o ganho de ponto nas fotos para impressão alterando a chamada “curva de tom”. Caso contrário, teremos áreas “chapadas”, totalmente brancas ou totalmente pretas. Perderíamos detalhes da fotos, caso isto acontecesse.
Para fazermos o tratamento de fotos para impressão em preto e branco, primeiro temos que converter as fotos para tons de cinza. Qualquer programa de edição de foto tem este recurso em algum lugar bem acessível. Em geral, esta opção está no menu “Imagem > Modo > Tons de cinza” ou algo do gênero. As imagens de computador têm 256 tons de cinza (profundidade de cor de 8 bits), o que é mais do que suficiente para o olho humano enxergar belas fotos.
Depois de transformada em tons de cinza, as fotos precisam ter suas áreas claras escurecidas e suas áreas escuras clareadas, o que se faz alterando a “curva de tom”, em geral também no menu “Imagem” dos programas de tratamento de foto.
Cada tipo de papel e cada tipo de impressora tem um ganho de ponto diferente. As gráficas fornecem tabelas que descrevem este ganho. Grosso modo, para fotos a serem impressas em papel jornal, podemos clarear 25% as áreas escuras e escurecer 25% as áreas claras de uma foto em tons de cinza. Com isso, a foto vai ficar com pouco contraste na tela do computador, mas o resultado final, impresso, ficará perfeito.
A seguir, temos de corrigir a faixa média de tons. Isto é particularmente importante no caso de rostos de pessoas, para que os tons criem a sensação de volume no rosto, não deixem a pessoa com a “cara chapada”. Esse ajuste varia de foto para foto. Se a foto tem muitos tons escuros, a curva deve ser mais clareada, e vice-versa. Apenas a prática leva a um ajuste perfeito, depois de se ver as fotos originais, o ajuste e a impressão
Uma das coisas que mais se faz em jornalismo gráfico é colocar legenda e crédito em fotos. Essa é uma operação chata porque envolve manipulação de objetos gráficos pequenos e ajuste preciso. E o ajuste em jornal precisa ser sempre preciso.
Lembre-se de que se um jornal aparece com erro de diagramação, vai parecer que ele erra também na apuração, na redação, na distribuição. Enfim, se há algo desalinhado nas páginas de seu jornal, há algo desalinhado em toda a empresa ou instituição.
Para ajudar os alunos e os funcionários do Jornalismo do IPA envolvidos nas publicações Universo IPA (jornal mural, jornal broadsheet (standard), jornal tablóide, revista, site), resolvi aprender JavaScript para programar o Adobe inDesign, como já faço com o Python e Scribus. Assim surgiu este script para alinhar foto, legenda e crédito da foto.
InDesign pode ser controlado com as chamadas “linguagem script”. São linguagens para se escrever programas, supostamente com rapidez, destinadas a resolver necessidades de outros aplicativos. Por exemplo, todos os navegadores usam JavaScript para controlar as páginas Web. Além dos navegadores, outros programas usam JavaScrip, notadamente o Adobe Acrobat e o Adobe InDesign.
O Adobe InDesign executa programas em três linguagens: Applescript, VBScript e JavaScript. As duas primeiras são exclusivas dos computadores Macintosh e Windows, respectivamente. Então, programar e aprender uma destas linguagens significaria desenvolver programas e comandos para um número mais limitado de pessoas. Resolvi adotar JavaScript, que também é a base da Web atualmente. Assim, os programas que eu desenvolver serão compatíveis com Mac e com Windows.
Como ponto negativo, descobri que JavaScript, por questões de segurança, não tem drivers para bases de dados. Ou seja, não posso consultar textos em bancos de dados e diagramar uma página automaticamente como faço no Scribus. É uma grande falta, porque não posso editar diretamente registros de blogs e CMS para usar como sistema editorial.
Mas, de resto, JavaScript é uma linguagem razoável para uso geral. Scripts InDesign feitos em JavaScript podem rodar sem problema em Windows, Macintosh e talvez até mesmo em Wine no Linux (tenho que testar isso em breve).
O que esse meu script (para download mais abaixo) faz :
Pega dois ou três quadros selecionados.
Considera o primeiro quadro como foto
Monta a legenda
Monta o crédito da foto
Coloquei o script na pasta c:\Arquivos de programas\Adobe\Adobe InDesign CS2\Presets\Scripts\ do Adobe InDesign para que ele apareça na paleta de Scripts (Windows > Automation > Scripts):
Seleciono a foto e um quadro qualquer para legenda, e mais um quadro opcional para crédito da foto (ou seja: seleciono dois ou três objetos).
No script, usei comandos “prompt” e “confirm” do JavaScript, que oferecem uma interface com usuário simples mas fácil de ser implementada. Abaixo, resultado obtido com “confirm” e “prompt”:
O script deixará:
Primeiro quadro intacto, mas transformado em quadro de imagem e com o estilo de objeto “Foto“;
O segundo quadro vira legenda, formatado com o estilo de objeto “Legenda“;
O terceiro quadro, se houver, vira crédito da foto, formatado com o estilo “Crédito da Foto“.
Acima, o resultado final do script: o quadro da foto com um quadro de legenda embaixo e um quadro de crédito na direita, “em pé”. Se os quadros já contiverem texto, o script dará opção de não editá-los, só modificar o tamanho e posição dos quadros.
Se os estilos não existirem ainda, serão criados com as definições default do meu InDesign.
Eu posso mudar as medidas conforme meu projeto gráfico. As variáveis que valem a pena serem modificadas estão no início do script. Mudo conforme a necessidade e dou um nome diferente para os arquivos.
Se os quadros tiverem conteúdo, serão preservados. A foto não será agrupada com a legenda e com o crédito, para que eu possa redimensioná-la se necessário. Só agrupo depois de escolhidas as dimensões finais da foto.
A foto tem text wrap de zero em cima, para ser colocada próximo aos títulos. Nos lados, o text wrap é de 5 mm, e em baixo, de 10 mm para dar espaço à legenda. Estas medidas podem ser modificadas no início do script.
O quadro de legenda e crédito ignoram o text wrap, para que o texto apareça. Eles também têm o text wrap de zero, apenas o suficiente pra não ficarem em cima de texto nenhum.
Para completar a automação, atribuí este script às teclas SHIFT+CTRL+ALT+F. E manualmente setei os estilos de frames determinando o estilo de parágrafo. Por exemplo, o frame de estilo “Legenda” formata o texto que contém com o estilo de parágrafo de estilo “Legenda”. Tenho que descobrir como fazer isto pelo próprio script.
O alinhamento de fotos é simples:
Redimensiono a foto;
Seleciono os quadros da legenda e do crédito, com shift+clic;
Teclo o atalho.
Aqui está o script para montar foto, legenda e crédito no InDesign, versão 008.
Bibliografia
FLANAGAN, David. Javascript - The Definitive Guide. 4Th Edition. O’Reilly. Arquivo CHM (html help do Windows).
KAHREL, Peter. Scripting InDesign with JavaScript. O’Reilly Media, 2006. ISBN: 0-596-52817-5. Comprado pela O’Reilly em formato PDF.
Adobe InDesign CS2 Scripting Guide. Adobe Systems Incorporated, 2006. Documento PDF.
JavaScript Tutorial. Site web disponível em:
Disposição de anúncios e matérias num jornal
Postado por Eclipse às 13:46
Assinar:
Postagens (Atom)